Muitas pessoas em situação de aflição psicológica buscam ajuda de amigos, familiares, psicólogos, líderes religiosos e mestres espirituais. A ajuda que estes se propõem a oferecer pode diferir muito.
Em grande parte das culturas atuais — globalmente, a ocidental, em especial — ajudar o outro parece carregar um imperativo moral heteronômico (ainda que não se perceba isso de imediato), ou seja, ficam aí preestabelecidas relações de superioridade versus submissão em que o ajudante estabelece normas, ensina, conduz ou “faz por” ao ajudado. De acordo com Naranjo (2007), nas sociedades atuais impera uma mente patriarcal em que
(…) as relações de dominação-submissão e paternalismo-dependência interferem na capacidade de estabelecer vínculos adultos solidários e fraternais; ou, dito de outra forma, uma sociedade onde a fome de amor materno e paterno levam a maioria das pessoas a uma dependência emocional e a uma obediência compulsiva que não apenas são alienadoras, como também constituem distorções, falsificações e caricaturas do amor.
Numa rápida busca nos dicionários, encontram-se alguns sinônimos da palavra ajuda que parecem divergir deste imperativo: assistir, tratar, curar, apoiar, auxiliar, amparar, dar suporte, facilitar, confortar, favorecer, acudir, contribuir, são alguns dos mais encontrados.
A psicoterapia é o processo de intervenção clínica realizada pelo terapeuta com seu cliente, cujo objetivo é o tratamento de suas aflições psicológicas, ou seja, a restauração da saúde mental e da qualidade de vida. Todavia, as várias escolas psicológicas diferem muito na forma como se dá o processo terapêutico, existindo aquelas que se propõem localizar e modificar o comportamento — a terapia cognitivo comportamental por exemplo –, outras que buscam destrinchar o conteúdo emocional indo até as origens infantis da história do paciente, como é o caso da psicanálise, etc.
A gestalt-terapia é uma abordagem humanista de psicologia clínica criada por Friederich Salomon Perls (1893–1970) e difundida atualmente por Claudio Naranjo (1932–2019) e apoiadores, cuja praxis do terapeuta visa ajudar o cliente a se transformar no que verdadeiramente é, dando apoio e ambiente necessários para que ele possa restaurar sua autonomia e melhorar a qualidade de vida. Aqui, o sentido de ajuda se aproxima ao de assistir, facilitar, cuidar.
Algumas bases filosóficas
A fenomenologia é uma das contribuições filosóficas mais importantes para a abordagem gestáltica, além da psicologia humanista, do existencialismo e da filosofia oriental. O retorno às coisas mesmas e a busca pelo sentido em Edmund Husserl (1859–1938) inspirou muitos filósofos importantes — como Buber, Heidegger, Merleau-Ponty, Sartre, etc — os quais também, por sua vez, ressoam nesta escola. Segundo Monique Augras (1995, p. 23),
(…) a fenomenologia garante um acesso mais objetivo, mais respeitoso da realidade alheia. Incorporando a evidência do envolvimento do observador no campo que observa, relativiza a abrangência do conhecimento que elabora a partir da observação. Move-se no paradoxo. Conjuga familiaridade e estranheza. Reconhece que o único modo de se aproximar da realidade do outro é construir pelo diálogo, conjuntamente com esse outro, o testemunho do encontro.
A gestalt se inspira no método fenomenológico, principalmente, para elaborar o conceito de dar-se conta (awareness). Yontef, (1998, p. 15) explica que em fenomenologia, o importante é perceber, sentir e atuar, contrariamente ao conhecido interpretar e modificar atitude. Para ele, “explicações e interpretações são consideradas menos confiáveis do que aquilo que é diretamente percebido ou sentido”.
Não que Fritz Perls estivesse interessado em teorizações, nem em elaborar um construto teórico ou acadêmico de sua abordagem — nisso, Laura Perls e seus colegas se concentraram mais do que ele. De acordo com Peñarrubia (2008, p. 70), Perls considerava a gestalt como uma “postura ateórica”, criticava a filosofia como sendo “acercadeísta” (acerca de).
Todavia, é certo de que ele tinha, por natureza, uma visão fenomenológico-existencial, a qual deixou fluir e trabalhou com ela. Claudio Naranjo, seu mais proeminente discípulo da fase em Esalen afirma que “a terapia gestáltica é aquela maneira particular de tratar as pessoas que descobriu e ensinou Fritz Perls”. (NARANJO, 2012, p.12). Todavia, Naranjo (1973, p. 53), ainda afirma que a terapia gestáltica É uma terapia, mais que uma teoria, uma arte, mais que um sistema psicológico; mas tem, como na psicanálise, um substrato filosófico. Mais ainda: se funda numa postura filosófica implícita que o terapeuta transmite ao paciente ou aluno através de seus procedimentos sem necessidade de explicação ulterior.
Este agir gestáltico, enraizado na experiência e no dar-se conta, gera uma situação terapêutica de ajuda humanizada, em que o terapeuta assiste ao paciente na expressão de sua aflição, abarcando o ser que ele é, servindo de estímulo para que ele próprio aceite também quem é, sem interpretar seu discurso, corrigir suas ações ou aconselhá-lo a melhorar de alguma forma.
A atitude descrita está intrinsecamente conectada ao que Martin Buber (1878) denominou campo relacional-dialógico do eu-tu. Heidegger (1981, p.41) elucida estes dois modos de cuidar:
Pode-se, por assim dizer, tomar “conta” do outro ou colocar-se em sua posição de cuidar: pode-se “saltar sobre o outro”. Esse modo de solicitude é o que assume o encargo que é do outro de cuidar se si mesmo. (…) consiste em ‘saltar-se sobre o outro’ e em tomar conta dele e por ele (…). Em contraste a esse modo de solicitude há um outro (…) em que não se protege o outro, mas em que, antes disso, faz-se com que ele se volte para si mesmo autenticamente, como pela primeira vez. Esse outro modo de solicitude pertence essencialmente ao autêntico ‘cuidar’ — isto é, para com a existência do outro e não para um ‘o que’ ele cuida: ele salva o outro para torná-lo transparente a si mesmo em seu cuidar e para torná-lo livre para si.
Observa-se aqui, com bastante vigor, a influência kantiana que teve o humanismo de Martin Heidegger (1889–1976) em Todos nós… ninguém: os dois modos se relacionam com a ação moral heteronômica em Kant, em contraposição à autonomia, que é a capacidade de dar leis e conduzir-se a si mesmo — ferramenta fundamental a ser desenvolvida pelo ser humano. Immanuel Kant (1724–1804) elabora esses conceitos, evidentemente, pensando no âmbito das instituições humanas, mas aqui são funilados para o âmbito do indivíduo, uma vez que não existe, de fato, indivíduo sem sociedade e vice-versa. O que existe é a alteridade e a relação. Em Resposta à pergunta: o que é o esclarecimento? Kant afirma:
É muito confortável ser um menor. Se eu tenho um livro que pensa por mim, um pastor que age como se fosse minha consciência, um físico que prescreve a minha dieta e assim sucessivamente, não tenho então necessidade de empenhar-me por conta própria. O filósofo destaca que a saída da menoridade se dá quando o indivíduo parte em direção ao esclarecimento, elemento da razão própria, não influenciado por elementos externos.
Este princípio tangencia o cuidar gestáltico, uma vez que o objetivo do terapeuta é ajudar para que o paciente, a partir de seus próprios recursos, possa restaurar sua autonomia e responsabilidade por suas necessidades, dar-se conta de seus movimentos neuróticos e relacionar-se com o entorno de forma mais saudável. Perls (1977, p. 40) afirma que “o homem que pode viver em contato íntimo com sua sociedade, sem ser tragado por ela nem dela completamente afastado, é um homem bem integrado. ”
Os códigos de conduta e sistemas de moral são inerentes a qualquer sociedade e coercitivos do ser humano. O indivíduo é sociocultural, antes de tudo. Nasce imerso numa cultura e é construído como engrenagem da mesma. Quando seu intelecto busca a autonomia, ele próprio, de certa forma, inicia um processo de desconstrução de papéis e posterior reconfiguração. Quando, além desse trabalho intelectual, o indivíduo parte em busca da autenticidade com relação às suas necessidades emocionais e físicas e se habilita a responder por elas (ser responsável), ele pode diminuir o impacto dos sistemas exteriores e conviver em homeostase.
Nesse sentido, observa-se que, para aquele que não possui o dito esclarecimento kantiano, ajudar o outro poderia significar — inclusive com sensação virtuosa de fazer o que é certo -, exercer influência que gere o retorno do ajudado à conduta estabelecida como ideal moral daquela sociedade. Isso pode ocorrer através de ações como: corrigir, aconselhar, criticar, julgar, convencer, ensinar, normatizar, comparar atitudes, intervir, controlar, persuadir, pressionar, resolver pelo outro.
É muito claro, todavia, que o senso comum se dá por processos heurísticos e, assim sendo, as pessoas não refletem semanticamente sobre as palavras que utilizam no cotidiano, muito menos sobre a qualidade, consequência, intensidade ou direção (se é para mim ou para o outro) de suas ações. O mapa heurístico aqui se origina na cultura em que o indivíduo se insere. Que não haja engano, portanto: as normas sociais existem e são inerentes à sociedade e a imersão do indivíduo nelas é inevitável.
Assim, pode-se dizer que a ajuda heteronômica parte de um automatismo presente na cultura — a que Claudio Naranjo (2007) enfatiza como sociedade do patriarcado -, algo que pode ser modificado via tomada de consciência. Há relatos antropológicos de culturas em que, apesar da óbvia dependência da criança para sua sobrevivência, desde o início de sua vida é tratada como indivíduo, como pessoa — no sentido dado por Mauss — e, como parte integrante e funcional da comunidade, comanda as rédeas de sua autonomia.
Não há escapatória: ou o ser humano se conduz a si mesmo para a uma vida vívida, significativa, mas que exige dele a responsabilização, ou passa por ela latente, acreditando preencher um buraco sem fundo com alimento fornecido por outros, numa eterna infância acinzentada.
Nesse ponto, o existencialismo de Jean-Paul Sartre (1905–1980) também influencia a gestalt-terapia. De acordo com Peñarrubia (2008, p. 68), Sartre afirmava que
(…) o homem está condenado à liberdade, a ser e tornar-se ele mesmo, separando-se de uma concepção de ser humano determinado “desde dentro” (pelos traços de personalidade) ou “desde fora” (pelas relações materiais, (…)). Estar condenado à liberdade conduz ao risco de eleger, a luta entre opções e a responsabilidade última pela própria existência (…).
Os mecanismos subjacentes à ajuda heteronômica
É evidente que este tema permeia nossa vida em sociedade como um todo. Entretanto, dado que o presente artigo se volta aos terapeutas, estudantes e interessados na gestalt-terapia, este tópico pontua os mecanismos por trás dos quais pode se dar a ajuda heteronômica na situação terapêutica, especificamente. Como a relação paciente-terapeuta é nada menos que a relação entre duas pessoas, a gestalt terapia preceitua certa liberdade na atuação do terapeuta a partir de sua própria personalidade, como afirma Llano (2012, p. 8) (…) uma atitude comprometida com a autenticidade, com uma forma de viver onde ser nós mesmos é o início, o meio e o fim. A prescrição de sermos nós mesmos e a condenação desapiedada de qualquer impostura, eis aqui a plataforma para construir conhecimento, eis aqui a Gestalt viva, eis aqui um Gestaltista.
Sendo assim, o terapeuta não está isento da coerção social ou da influência de sua história de vida e dos mecanismos neuróticos encontrados em qualquer ser humano, como se poderia pensar de um terapeuta ideal (como é o caso do psicanalista idealmente imparcial); mas para que esta influência seja uma ferramenta, e não uma interferência heteronômica na situação terapêutica, é imprescindível que o terapeuta se mantenha presente no aqui-agora, e que tenha desenvolvido esta capacidade de awareness o suficiente para que perceba, a todo momento, quais conteúdos pessoais seus aparecem na situação terapêutica, além do que vem do cliente.
A gestalt terapia, portanto, não é por outro lado, livre de prescrições. Há um agir gestáltico inerente à filosofia que baseia a terapia. O terapeuta que ainda está grandemente dominado por seu ego e seus mecanismos de defesa pode afirmar que sua atitude advém de seu estilo pessoal de fazer gestalt. Mas que não haja engano: um terapeuta que não se desenvolve nas bases desse agir gestáltico não pode ser um gestaltista; ele se encontra na minoridade emocional, no automatismo a que foi culturalmente exposto e a que poderia permanecer sob custódia por toda a vida, caso não se sentisse compelido ao exercício da dita maioridade kantiana. O gestaltista trabalha arduamente a si mesmo na direção de desaprender, ou seja, liberar-se do automatismo tornando-se cada vez mais consciente dos fenômenos que ocorrem dentro e fora de si.
A ajuda heteronômica por parte de um terapeuta pode ocorrer por diversos fatores. Entretanto, a base de todos os possíveis fatores é apenas uma: a mente neurótica. Como afirma Perls (1977, p. 116)
Se o terapeuta tem uma forte necessidade de poder (…), não acompanhará o paciente para que este atinja a autoafirmação, mas, ao contrário, o impedirá até de tentar atingi-la. Se ele necessita do apoio de teorias rígidas para compensar sua falta de autoafirmação, esmagará o paciente, atribuindo qualquer diferença de ponto de vista à resistência. Se o terapeuta for profundamente retraído, falará de relações interpessoais, mas não atingirá o paciente.
Um grande o desafio que o terapeuta possui é com relação à projeção, no modo da contratransferência. Quando seus conteúdos pessoais passam despercebidos pela atenção e invadem a relação terapêutica, o que se segue é uma relação paciente-paciente. Joseph e Sandra Zinker (2000) dão um exemplo:
Quando o terapeuta atende um casal, ou um cliente, nunca está sozinho. Traz consigo todas as regras e experiência de sua vida. (…) O terapeuta pode estar lá como “amigo” que tirou conclusões sobre a vida. Viveu sua própria vida cometendo erros, descobrindo o que é “certo” ou “errado”, o que é bonito ou feio (…). Todos estes aspectos se encontram presentes na sessão e o terapeuta tem que mantê-los afastados, num local seguro, para poder estar totalmente presente para o cliente.
Outra possibilidade ocorre quando o terapeuta não sente segurança na atuação, devido à gestalten abertas, feridas profundas não visitadas ou resolvidas, etc.: ele pode então se apoiar fortemente em teorias e introjeções, evitando a auto responsabilização, a liberdade e o auto apoio. Perls (1977, p.115) afirma que quando um terapeuta confia muito em seus preconceitos, crenças e teorias, “mais dependerá da especulação para ter uma ideia do que se passa com o paciente. Com isso, o terapeuta fica impedido de enxergar o paciente como indivíduo único, senão como categoria numa taxonomia teórica com a qual o terapeuta busque uma falsa sensação de segurança.
Além da projeção e da introjeção, outros mecanismos de defesa comumente abordados e explorados em gestalt terapia também podem aparecer como vozes existenciais do terapeuta e podem interferir na relação terapêutica se não forem observados. Na confluência, por exemplo, o terapeuta pode confluir com padrões familiares arraigados e não desaprendidos, e influenciar o paciente no sentido de seguir estes padrões, com uma ilusória moral dualista (certo/errado), ou seguir perpetuando um modo de ajuda heteronômico exercidos pelas figuras parentais no contexto familiar. Na introjeção, por sua vez, o terapeuta pode exercer, na situação terapêutica, a função de uma figura que foi introjetada, (por exemplo, se posiciona como “mãe” do paciente, por ter introjetado sua própria mãe, devido à sensação de abandono). Já o retroflexivo pode dar manutenção na não responsabilização do paciente, voltando contra si qualquer enfrentamento ou conflito que aparecer na terapia.
A atitude gestáltica e o cuidar de si
Muito já foi falado no tópico anterior a respeito da atitude gestáltica, comparando-a ao modo automatizado da mente patriarcal. Aqui verifica-se como se dá o caminho para esta atitude, para o cuidar do outro.
De acordo com Borja (1995), o terapeuta é como um ermitão do tarot que acompanha os passos do paciente, aqui e agora, sendo que (…) “a luz não se perde tentando iluminar o futuro. O terapeuta acompanha o paciente, independente de saber para onde eles dois irão”, afirma.
Além disso, “não é tarefa do terapeuta fazer julgamento de valor sobre as necessidades existenciais de seus pacientes” (PERLS, 1977, p. 58), ou seja, o terapeuta que acompanha põe de lado suas crenças, valores e preconceitos pessoais, para encarar seu paciente como ser único, como fenômeno que se mostra pela primeira vez. Borja (1995) ainda ressalta que (…) o único que pode reconhecer se quer trabalhar é o paciente.
Temos que escutá-lo, mas escutando-nos. Não temos que ver suas impossibilidades, mas nossa incapacidade de aceitá-las, devido a nossa ansiedade, pretensão e impulsividade. Nesse sentido, a gestalt-terapia insiste que ao terapeuta se faz necessário passar por seu próprio processo, que trabalhe seus temas pessoais, se desenvolva como pessoa e se dê conta da atuação de seu ego e os mecanismos de defesa que utiliza, de forma que possa, no âmbito terapêutico, trabalhar com seu paciente e guia-lo por caminhos já trilhados, sem perder de si no processo.
Para que possa ajudar efetivamente o paciente, o terapeuta precisa resgatar o amor altruísta e despretensioso e, para tanto, é necessário que ele tenha revisitado e identificado suas próprias necessidades, desejos, insatisfações e carências do universo infantil. Como afirma Rollo May (1979, p. 198) (…) o verdadeiro problema das pessoas de nossa época antecede o do próprio amor: é tornar-se capaz de amar. (…), mas por isso mesmo é uma meta conquistada somente na proporção em que se preencheu a condição anterior, que é tornar-se pessoa independente.
A independência é a coluna vertebral da maioridade. O terapeuta que alcança uma atitude gestáltica possui uma capacidade de responder ao que lhe chega com autenticidade e influencia o paciente com seu exemplo. Afirma Borja (1995) que
A autenticidade é não mudar aquilo que se é e aceitar aquilo que se tem. É a capacidade de se manifestar tal como se é, sem disfarces. (…) A autenticidade não é tentar ser melhor. Isso seria um sentimento de dever, uma obrigação, uma ordem, uma fachada. A verdadeira autenticidade é mostrar-se, sem preconceito, sem temor de ser desvalorizado.
Para conseguir isso, temos que trabalhar muito como pacientes, não como terapeutas.
Assim, a relação terapêutica serve como campo de experiências para o desenvolvimento do próprio terapeuta, tanto em suas questões pessoais — como paciente, ele mesmo — quanto em suas habilidades profissionais, no sentido de que pode ir dando conta de sua intuição, da presença que dispõe, das técnicas que maneja melhor e de como se dá, fenomenologicamente, sua relação com o paciente. Buber (2003) afirma: “que ninguém tente debilitar o sentido da relação: relação é reciprocidade. ” Fazer terapia e ser terapizado são, portanto, faces de uma mesma moeda. Para Naranjo (2012, p. 380)
Poucos casos nos exigem tanto o total de nossa humanidade como ajudar o outro diante dos problemas da vida ou da psique: a tarefa sempre é algo superior às nossas capacidades, e nos faz sentir nossos vazios, nossos enrijecimentos, nossa limitada capacidade de entender. É natural, portanto, que nos inspire a progredir em nosso processo de evolução.
Notas de Rodapé
Com sua antropologia filosófica, Martin Buber enfatiza o campo relacional, do eu-tu, como a pedra fundamental do conhecimento do humano.
De acordo com Gigerenzer e Gaissmaier (citado em Wikipédia), “heurísticas são processos cognitivos empregues em decisões não racionais, sendo definidas como estratégias que ignoram parte da informação com o objetivo de tornar a escolha mais fácil e rápida. ” Disponível em<https://pt.wikipedia.org/wiki/Heurística>.
Sociedade indígena brasileira citada por Marina Massimi em seu livro História da psicologia brasileira — Da época colonial até 1934.
A noção de pessoa (de Eu) em Marcel Mauss — Pessoa como fato moral. Ser consciente, independente, senhor de si, autônomo, livre.
Pode-se dizer que o agir gestáltico se fundamenta por nove preceitos morais implícitos, comentados por Claudio Naranjo em “La focalización en el presente: Técnica, prescripción y ideal. ”
Referências
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NARANJO, Claudio. Por uma Gestalt viva. E para todos. São Paulo: Editora Esfera, 2012.
AUGRAS, Monique. Psicologia e Cultura: alteridade e dominação no Brasil. Rio de Janeiro: Nau, 1995.
NARANJO, Claudio. La focalización en el presente: Técnica, prescripción y ideal. In: FAGAN, Joen; SHEPHERD, Irma. Teoría y técnica de la psicoterapia guestáltica. Buenos Aires: Amorrortu Editores, 1973. Cap. 4. p. 53–74.
YONTEF, Gary M. Processo, diálogo e awareness. 2. ed. São Paulo: Summus, 1998.
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BUBER, Martin. Eu e tu. 6.ed. São Paulo: Centauro Editora, 2003.
KANT, Immanuel. Resposta à pergunta: o que é esclarecimento? (Trad. L. P. Rouanet). Disponível em http://www.uesb.br/eventos/emkant/texto_II.pdf. Acesso em 15 jul.
PERLS, Fritz. Abordagem gestáltica e Testemunha ocular da terapia. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1977.
MASSIMI, Marina. Conhecimentos psicológicos no Brasil colonial. In: MASIMI, Marina. História da psicologia brasileira: da época colonial até 1934. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1990. Cap. 1. p. 5–28.
MAUSS, Marcel. Uma categoria do espírito humano: a noção de pessoa, a de “eu”. In: MAUSS, Marcel. Sociologia e Antropologia. (Trad. P. Neves) São Paulo: Cosac Naify, 2003. Cap. 5. p. 367–397.
LLANO, Jorge. Prefácio. In: NARANJO, Claudio. Por uma Gestalt viva. E para todos. São Paulo: Editora Esfera, 2012. p. 7–9.
ZINKER, Joseph; ZINKER, Sandra Cardoso. Processo e silêncio: fenomenologia da terapia de casais. Revista de Gestalt, São Paulo, n. 9, p. 07–16, Instituto Sedes Sapientiae, 2000.
BORJA, Guilhermo. La locura lo cura: manifiesto psicoterapêutico. México: Ediciones del Arkan, 1995.
MAY, Rollo. O homem à procura de si mesmo. Petrópolis: Vozes, 1979.
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