Complexo de Inferioridade e Perfeccionismo
- Sofia Lima
- há 4 dias
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a armadilha silenciosa por trás do perfeccionismo e da autopiedade
Você pode até ter uma carreira sólida, um bom gosto impecável e uma agenda cheia. Mas, lá no fundo, sente que está sempre em dívida com algo que não sabe nomear. Nunca suficiente. Nunca à altura. Nunca realmente boa.
E se eu te dissesse que esse mal-estar pode ter nome? E mais: que ele pode ser menos "humildade" e mais... arrogância disfarçada?
O complexo de inferioridade é mais sofisticado do que parece
Muito se fala sobre baixa autoestima, insegurança, comparação. Mas o complexo de inferioridade é mais sorrateiro. Ele se instala onde há excesso de crítica — não só dos outros, mas da sua própria cabeça.
E ele veste roupas finas. Às vezes, aparece como “exigência”. Outras, como uma autodepreciação elegante: “imagina, isso não é nada”, “eu só dei sorte”, “as pessoas acham que sou incrível, mas se soubessem...”.
Só que essa falsa modéstia tem um veneno embutido: o perfeccionismo. A crença silenciosa de que errar é imperdoável. De que só há valor se for tudo impecável — ou então, melhor nem tentar.
E aí entra a ironia: quem vive se achando o pior, no fundo, acredita que ninguém pode ser pior do que ele. Isso é arrogância com roupa de vítima.
"O que os outros veem em mim está errado"
Se você sente que possui um complexo de inferioridade, talvez já tenha invalidado elogios sinceros. E não foi por humildade. Foi porque você acredita mais na sua visão distorcida de si mesmo do que no olhar do outro.
Você se tornou um juiz implacável — de si mesmo. Só acredita no que confirma sua autoimagem sabotadora. E rejeita, como se fossem mentiras, os sinais de valor que o mundo te devolve.
Mas vamos falar de coisa séria: isso é uma escolha (inconsciente, sim — mas ainda assim, escolha).
O medo de errar, ser exposto, julgado
Uma das raízes mais profundas do complexo de inferioridade é o medo de errar. Porque errar, para quem vive nessa prisão interna, não é humano — é uma sentença de morte simbólica.
Só que tem um detalhe: todo mundo erra. O que muda é o que se faz com isso. Pessoas livres aprendem. Pessoas presas se autoflagelam. E é aí que nasce o ciclo da autossabotagem.

Porque, sim, se sabotar também é uma forma de fugir: da alegria, da responsabilidade, do protagonismo. É mais fácil ser a vítima que "não consegue" do que admitir que você tem escolha — e tem medo do que pode acontecer se escolher de verdade.
Sutileza importante: se algo aqui te incomodou, talvez seja um bom sinal. Às vezes, o desconforto é a verdade batendo na porta.
A origem: críticas, exigências, máscaras
Talvez você tenha crescido ouvindo que nunca era o bastante. Que errar era fracassar. Que você precisava ser brilhante, impecável, controlada. Talvez tenha aprendido a se proteger sendo a “forte”, a “certa”, a “que não precisa de ninguém”.
Mas chegou a hora de perceber: isso foi a estratégia usada para o seu adestramento. Não quem você é.
A vida adulta convida a uma reviravolta: deixar de viver como vítima da infância e passar a ser responsável por si. E isso significa dizer “não” ao que te disseram sobre quem você é — e começar a descobrir por si mesma.
Quem é você sem as máscaras?
A sociedade tem ideias bem claras sobre como você deveria ser: produtiva, elegante, inteligente, bem resolvida. Mas e se você estiver pagando um preço alto demais para manter esse personagem?
Fazer terapia não é consertar o que está errado em você — é descobrir quem está aí dentro, por baixo da performance. É abrir mão do status quo, das fantasias de perfeição, e encontrar jeitos mais autênticos de viver.
E sim, isso assusta. Porque é muito mais confortável se esconder atrás do “sou um desastre” do que aparecer como você realmente é — com suas potências, limites, dúvidas e verdades.
Se alguma parte de você está cansada de fingir que não está cansada, talvez já seja hora de parar de sobreviver e começar a viver.
A decisão que muda tudo
Você pode continuar se dizendo que não é boa o bastante. Que não está pronta. Que tem algo errado com você.
Ou pode, com toda a coragem que ainda não usou, decidir que não vai mais viver com pena de si mesma. Porque isso — essa pena — é a armadilha mais perigosa de todas. E você merece mais do que isso.
Fazer terapia é escolher sair do papel de coitada e assumir o lugar de autora da sua própria história. É parar de esperar que alguém venha te resgatar e começar a se resgatar por dentro.
Se esse texto tocou em algo verdadeiro aí dentro, não engaveta isso. Marque uma sessão comigo. Não pra se consertar. Mas pra, finalmente, se encontrar.
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